Site background

Cinema: Animais Noturnos (2016) 8.5

Feature image

Obsessão, perda, e vingança: os ingredientes do sonho Americano em Animais Noturnos

Publicado em 2025-06-17 por Rafael G. Aires
Animais NoturnosDirigido por: Tom FordDrama, Romance, Suspence+181h 56m

Animais Noturnos, o segundo filme dirigido por Tom Ford, — antes conhecido no mundo da moda pela revitalização da Gucci, e até então desacreditado diretor de cinema —, é um thriller psicológico marcante, que consegue, de maneira orgânica, e quase imperceptível, entrelaçar e conceber três narrativas paralelas ao mesmo tempo. O filme é uma adaptação do romance que leva os nomes dos dois personagens principais "Tony e Susan", de Austin Wright, e explora temas como a obsessão, a perda e a vingança. Logo nas cenas iniciais somos apresentados a Susan Morrow (Amy Adams), dona de uma galeria de arte em Los Angeles recebendo um manuscrito de um romance escrito pelo seu ex-marido. Edward Sheffield (Jake Gyllenhaal). Este romance, que também leva o nome de Animais Noturnos, conta a história de um homem chamado Tony Hastings, que é também interpretado por Gyllenhaal, cuja família é violentamente atacada durante uma viagem noturna no meio da estrada.

Imagem Cinemascope

"Tenho pensado bastante nele recentemente, e então há pouco tempo ele me enviou esse livro que ele está escrevendo. É violento, e é triste, e ele o dedicou para mim." —Susan

Enquanto Susan lê o manuscrito, o filme muda de perspectiva para o livro de Edward: uma história sombria e sufocante que se desenrola no deserto árido do oeste do Texas. A esposa de Tony, Laura (Isla Fisher, que é muitas vezes confundida com a própria Amy Adams na vida real), e a filha, India (Ellie Bamber), são sequestradas por um grupo de criminosos ao longo de uma rodovia à noite, e intimidadas por um delinquente conhecido pela polícia local como Ray (Aaron Taylor-Johnson). O romance segue as tentativas desesperadas de Tony de rastrear os criminosos e a sua busca por justiça, tudo isso enquanto luta com o peso da culpa de não ter conseguido fazer mais pela sua família. Enquanto isso, é nesses eventos e personagens que Susan acaba enxergando paralelos com a sua própria vida, revelando pouco a pouco a crescente distância emocional entre ela e o seu atual marido, Hutton (Armie Hammer), e a dor de seu relacionamento passado com Edward.

O filme é tanto sobre o desdobramento das emoções e memórias de Susan quanto é sobre a trágica história dentro do manuscrito. A partir do momento em que ela começa a se debruçar sobre essas páginas, Susan é forçada a confrontar o seu próprio passado, suas escolhas, seus arrependimentos, e, em especial, a forma como tratou Edward quando estavam juntos. Dessa forma, o manuscrito acaba servindo como reflexo da sua própria vida, sugerindo talvez que a escrita de Edward tenha servido como algo a mais do que apenas uma forma de expressão artística do seu autor. Essa atmosfera sombria e violenta percebida por Susan dentro do romance acaba refletindo a violência emocional que ela sente ao refletir sobre a sua vida, servindo como tema principal que permeia o restante da trama.

Imagem Cinemascope

"Eu tentei ligar para ele há alguns anos, mas ele desligou na minha cara. Acho que ele dá aula de inglês em um cursinho em Dallas. É triste, ele não se casou novamente." —Susan

Animais Noturnos é um filme esteticamente elegante e incrivelmente envolvente, carregado da marca e estilo característicos de Tom Ford, evidentes em sua bem colocada e meticulosamente trabalhada cinematografia (o filme é às vezes criticado por ser "sintético" ou "perfeito demais" na forma como se desenvolve). Com transições quase imperceptíveis, e uma narrativa não linear, o longa trabalha em cima da tensão e expectativa gerada pelo desconforto entre a realidade da vida de Susan e a fantasia de Edward. Vale ressaltar o trabalho feito pelo músico Abel Korzeniowski, que já tinha performando antes com o diretor em Um Homem Singular (2009), criando uma trilha sonora soturna que é tanto cativante quanto é natural, harmonizando-se com a história de forma a se tornar quase invisível, como se fizesse parte da própria vida daqueles personagens e dando folego aos temas centrais do filme: o impacto duradouro das escolhas tomadas e da natureza crua das suas consequências.

Rafael G. Aires

Leitor, escritor, desenvolvedor, criador do Quatro Parágrafos.